quarta-feira, 9 de abril de 2014

Caricatura: Um passeio bem humorado pela história do Brasil

Humor é cultura ou, mais especificamente, é história. Para comprovar, basta abrir as páginas do recém lançado primeiro volume da série “História da Caricatura Brasileira” (Editora Gala, 528 págs.), de Luciano Magno, pseudônimo do historiador e sociólogo Lucio Muruci. A coleção pretende examinar a trajetória e a produção dos artistas gráficos que desenvolveram o gênero no Brasil, desde a Independência até os dias de hoje. O primeiro volume se dedica aos precursores e à consolidação da caricatura no Brasil.
 


 

Eis a primeira caricatura brasileira, publicada no periódico "O Maribondo", em 25 de julho de 1822, por desenhista anônimo. Na imagem, um corcunda representa os portugueses, atacado por um enxame de maribondos: os brasileiros. Trata-se de uma crítica política aos lusitanos e à situação colonial do país, a dois meses de sua independência. A imagem foi descoberta pelo historiador Luciano Magno, autor de "A História da Caricatura Brasileira".
 
“A caricatura é o mais completo, minucioso e indelével inventário do caráter de uma sociedade”, afirma o autor, para quem “o livro espera contribuir para a compreensão da importância da caricatura e de seus veículos, na construção da identidade brasileira e, como se trata de arte viva e dinâmica, no entendimento da longa história aberta à nossa frente”.
 
O título da obra deve ser entendida num sentido amplo, pois o trabalho não se limita específicamente à caricatura, isto é, o retrato pessoal com traços estilizados para produzir um efeito cômico. Põe em foco também a charge e o cartum que se desenvolveram como um prolongamento da caricatura. Nesse sentido, o primeiro volume é uma verdadeira crônica da história do Brasil no seu primeiro século de existência, traçada pela visão satírica e perspicaz dos artistas ou jornalistas gráficos.
 
"O Marimbondo"
 
“História da Caricatura Brasileira”, para começar, redefine o marco inicial do desenho de humor no Brasil, uma vez que o autor levantou uma charge anônima, publicada em 1822, no jornal “O Maribondo” (veja álbum), anterior ao trabalho de Manuel Araújo Porto-Alegre, de 1837, considerado até então o pioneiro. No entanto, não retira o mérito de Porto-Alegre, autor, organizador e animador das artes plásticas no país no século 19, que foi, efetivamente, o primeiro profissional do gênero.
 
Não se pode deixar de mencionar que, ao historiar o desenho humorístico, a obra traça ainda uma painel da evolução do jornalismo no país, relacionando as várias publicações que circularam no Brasil durante o Império, a maioria das quais comprometidas com ideias políticas, embora a presença marcante do humor fique evidente até mesmo no título desses periódicos, entre os quais podem-se citar “O Carcundão”, “O Carapuceiro” e “A Mutuca Picante”, além do já mencionado “O Maribondo”.
 
Entre os caricaturistas, chargistas e cartunistas que o primeiro volume resgata, destaca-se o ítalo-brasileiro Angelo Agostini, figura mais emblemática de nossa caricatura oitocentista, que teve papel importante nas campanhas abolicionista e republicana, além de ter sido o fundador de periódicos que marcaram época como o “Diabo Coxo”, que circulou em São Paulo entre 1864 e 1865, ou a “Revista Illustrada”, semanário carioca publicado desde 1876 e 1898.
 
Outros destaques
 
Além de nomes como o de Agostini ou do português Bordalo Pinheiro, amplamente conhecidos por quem se debruça sobre o assunto, o primeiro volume de “História da Caricatura Brasileira” resgata vários artistas que não foram contemplados ou mencionados em estudos anteriores, como Leopoldo Heck, Carneiro Vilella, Luiz Távora e Maurício Jobim. Além disso, recupera desenvolvimentos pioneiros fora do eixo Rio-São Paulo, como a produção paranaense, gaúcha ou pernambucana.
 
Resta dizer que caricatura, charge e cartum são a especialidade do autor que já organizou várias mostras sobre o tema, como “A era J. Carlos; 100 anos”, “O Barão e a Caricatura”, e “Henfil: a Marca do Traço”. Além disso, é o idealizador de uma Bienal Internacional da Caricatura, cuja realização está prevista ainda para este ano.
Antonio Carlos Olivieri Antonio Carlos Olivieri é jornalista e escritor
 
Tida por muito tempo como a primeira caricatura brasileira, esta charge foi publicada por Manoel de Araújo Porto-Alegre, também foi poeta e integrante do Romantismo. Satiriza a nomeação do jornalista Justiniano José da Rocha para o cargo de Diretor do Correio Oficial. A legenda começa assim: "Quem quer; Quem quer redigir O Correio Oficial! Paga-se bem. Todos fogem?! Nunca se viu coisa igual." Foi veiculada pelo "Jornal do Commercio" em 14 de dezembro de 1837.
 
 
Capa da "Revista Illustrada", de 19 de maio de 1888, comemorando a promulgação da Lei Áurea. O semanário, republicano e abolicionista, fundado pelo ilustrador e jornalista ítalo-brasileiro Angelo Agostini, foi um marco no mercado editorial brasileiro do século XIX, tendo circulado no Rio de Janeiro entre 1876 e 1898, com tiragens de até quatro mil exemplares. Agostini também foi o criador de "O Diabo Coxo", primeiro jornal ilustrado de São Paulo.
 
 
 
 
 

 A charge de capa do semanário ou hebdomadário "popular satírico" "A Comédia Social", de 21 de julho de 1870, faz a crítica da falta de água na cidade do Rio de Janeiro. O trabalho é de autoria de Aurélio de Figueiredo, o que comprovando a presença e a qualidade de nossa arte satírica oitocentista, contrariando a noção de que no século XIX a caricatura no Brasil foi eminentemente obra de estrangeiros.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por Antonio Carlos Olivieri,  jornalista e escritor
 
 
Imagens: Reprodução
 
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Um comentário:

  1. Muito interessante. Estou pesquisando para meu mestrado e encontrei aqui informações muito boas. Parabéns.

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